PONTOS CHAVE: 

  • Os polifenóis são produzidos por plantas e têm diversas funções incluindo a defesa contra patógenos e papel antioxidante. Eles contribuem com as características do paladar e cores das frutas e hortaliças, mas 90% dos polifenóis da alimentação escapam da absorção no intestino delgado e posteriormente são tornados biodisponíveis pela ação das bactérias do cólon. 
  • A suplementação com polifenóis produz efeitos antioxidantes pela inibição das enzimas geradoras de superóxido como a fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina  (NADPH) oxidase e pela maior síntese de enzimas endógenas antioxidantes pelos mecanismos de resposta antioxidante. Eles também exercem efeitos anti-inflamatórios pela inibição das enzimas ciclo-oxigenases que produzem prostaglandinas pró-inflamatórias. 
  • O consumo de ~300mg de polifenóis em até uma hora antes do exercício parece melhorar a performance de resistência e sprints repetitivos mediado por mecanismos vasculares, em participantes ativos com finalidade recreativa. Contudo, apenas um pequeno número de estudos foram conduzidos até o momento e mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados, para determinar a influência do tipo de treino e otimizar o protocolo de suplementação. 
  • A recuperação da força muscular e a performance após exercício intenso são melhores com a suplementação de polifenóis, provavelmente devido a proteção contra danos oxidativos. Contudo, nosso entendimento sobre os mecanismos é atualmente baseado em medidas de biomarcadores plasmáticos indiretos ao invés da análise do músculo danificado por si só. 
  • A dose ideal de uma mistura de polifenóis para auxiliar a recuperação do músculo danificado não é conhecida atualmente, mas o consumo de ~1200 mg/dia dos polifenóis da cereja de Montmorency ou romã por 3 ou mais dias antes do exercício parece ser efetivo de forma consistente na melhora da recuperação.  

 

INTRODUÇÃO 

Frutas, hortaliças e suplementos de polifenóis derivados de frutas contêm uma mistura de polifenóis; a farmacocinética e metabolismo após a ingestão de alimentos integrais e suplementos derivados de frutas são altamente complexos. Consequentemente, ainda existem muitas questões sem respostas relacionadas à mistura ideal e a dosagem de polifenóis na melhora do exercício e recuperação. As características do paladar e cores das frutas e hortaliças são muito influenciadas pelos conteúdos de polifenóis. Polifenóis 

 

são onipresentes nas plantas, onde estão envolvidos em uma ampla gama de processos importantes incluindo crescimento, pigmentação, polinização, resistência a patógenos e estressores ambientais (Duthie et al., 2003). O conteúdo de polifenóis e misturas nas plantas são determinados pela espécie da planta, condições de crescimento (luz do sol, água, disponibilidade de nutrientes, temperatura), processos pós-colheita, transporte e condições de estoque (Oracz et al., 2015). Os polifenóis têm uma estrutura química em comum com dois ou mais grupos hidroxilas ligados a um ou mais anéis de benzeno e podem ser classificados em quatro grupos principais: lignanas, ácidos fenólicos, estilbenos e flavonóides.  Destes, os flavonóides são os mais abundantes.  A Tabela 1 fornece um resumo e exemplos de compostos e fontes alimentares importantes dos diferentes grupos de polifenóis. Existe uma variação considerável no conteúdo de polifenóis dos alimentos nas prateleiras do supermercado, e nos diferentes suplementos ricos em polifenóis derivados das frutas que hoje estão comercialmente disponíveis. 

TRADUÇÃO FIGURA 1:

Tabela 1. Fontes alimentares dos diferentes grupos e subgrupos de polifenóis.

Grupo de Polifenol Fonte alimentar Exemplos dos compostos (mg por 100g de peso do produto fresco) Conteúdo de polifenol (mg por 100g de peso do produto fresco)
Estilbenos Uvas roxas Resveratrol (0,15) 185
Lignanas Sementes de gergelim

Brócolis

Sesamina (538)

Lariciresinol (97)

199
Ácidos Fenólicos Café arábica filtrado

Infusão de chá preto

Suco de romã

*Ácido-5-cafeoilquínico (43)

*Ácido-5-O-gálico-quínico (12)

Punicalagina (135)

105
Flavonóides
Flavonóis Cacau Epicatequina (158) 5624
Flavonóis Cebola

Couve

Quercetina (13)

Kaempferol (27)

60

177

Flavonas Tomilho (fresco) Luteolina (39) 1173
Flavononas Laranja Naringenina (11)

Hesperidina (34)

279
Isoflavonas Soja 6-O-malonil-genisteina (16)
Antocianidinas Cereja

Groselha negra (cassis)

Mirtilo

Cianidina (54)

Delfinidina (391)

Malvinidina (47)

353

820

223

Proantocianidinas Cacau Dímeros B1 (112) 5624

Fonte: Phenol-explorer.eu. *Indica que as unidades são mg por 100ml de infusão

A absorção e metabolismo dos polifenóis é muito complexa já que existem milhares de compostos de polifenóis presentes nas plantas que interagem entre si, resultando em grande número de diferentes metabólitos na absorção (Crozier et al., 2010). Aproximadamente, 90% dos polifenóis passam sem serem digeridos pelo intestino delgado até o cólon, onde são transformados pelas enzimas presentes nas bactérias da flora intestinal, produzindo metabólitos como os ácidos fenólicos, que podem então serem absorvidos. A ingestão de um único polifenol pode levar ao aumento de muitos diferentes metabólitos. Por exemplo, nas 48 horas após a ingestão da 13cianidina-3-glicosídeo, 17 diferentes metabólitos conhecidos foram detectados no plasma (de Ferrars et al., 2014).

PROPRIEDADES DOS POLIFENÓIS 

Os polifenóis possuem propriedades de vasculhar radicais relacionadas com a sua estrutura química. Contudo, a concentração plasmática máxima de polifenóis e seus metabólitos é relativamente baixa (0,1– 22 μM) em comparação com a concentração plasmática do urato (150– 450 μM) que também é um antioxidante importante no compartimento plasmático. Parece improvável, portanto, que os fenólicos plasmáticos são antioxidantes diretos efetivos in vivo. Existem crescentes evidências atualmente de que os fenólicos aumentam a capacidade antioxidante endógena pela sinalização via fator 2 (Nrf2)/elemento de resposta antioxidante (ARE), resultando em uma síntese aumentada de antioxidantes endógenos como a superóxido dismutase, catalase e peroxirredoxina (Huang et al., 2015). Paradoxalmente, parece que os efeitos antioxidantes dos polifenóis surgem da sua ação pró-oxidante após exposição in vivo a espécies reativas de oxigênio (EROs). Os polifenóis também possuem propriedades anti-inflamatórias e têm sido mostrados in vitro reduzindo a sinalização pró-inflamatória via fator nuclear Kappa de cadeias leves intensificador de células B ativadas (NF-κB) por inibir as enzimas ciclo-oxigenases COX-1 e COX-2 (Esposito et al., 2014), que também são alvos de medicamentos anti-inflamatórios não esteróides. 

O consumo de polifenóis derivados das frutas, incluindo aqueles das cerejas, mirtilos,  groselhas negras (cassis), romãs e do cacau, reduzem os marcadores plasmáticos de 

 

danos oxidativos e inflamação. A suplementação crônica e aguda com polifenóis também melhora a função vascular, especificamente a vasodilatação fluxo-mediada (FMD) dependente de óxido nítrico (NO). Um estudo de meta-análise revelou que a suplementação aguda com uma mistura de flavonóides aumentou a FMD em 2,33% (baseado em 18 estudos) e em 0,73% com a suplementação crônica (baseado em 14 estudos) (Kay et al., 2012). A dose ideal identificada foi de 500mg/dia de flavonóides totais ou 300mg/dia de procianidinas. O aumento da biodisponibilidade de NO é provavelmente atingido por diversos mecanismos agindo sinergicamente para 1) ativar a síntese de óxido nítrico endotelial (Chalopin et al., 2010), 2) inibir as enzimas de produção de superóxido como as NADPH oxidase (Maraldi, 2013), e ainda reduzir a depleção de NO devido a formação de NO e superóxido, e 3) sinalização por meio da Nrf2 e aumento da capacidade antioxidante endógena (Ramirez-Sanchez et al., 2013).

Existe ainda uma forte lógica sugerindo que os polifenóis podem melhorar a performance do exercício e recuperação após exercício intenso devido às suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e vasoativas (Bowtell & Kelly, 2019). O objetivo deste artigo do Sports Science Exchange é fornecer um breve resumo das evidências de pesquisas recentes nesta área. 

A SUPLEMENTAÇÃO DE POLIFENÓIS NA PERFORMANCE

 

O músculo esquelético é um grande produtor de espécies reativas de oxigênio de uma variedade de fontes incluindo a cadeia de respiração mitocondrial e fontes enzimáticas como as NADPH oxidase e xantinas oxidase. A geração de EROs aumenta durante o exercício de maneira dependente da intensidade e pode exceder a capacidade antioxidante muscular resultando em balanço redox comprometido durante exercícios prolongados ou de grande intensidade (Bailey et al., 2007). Esse comprometimento no balanço redox resulta no desenvolvimento da fadiga através do fluxo sanguíneo e capacidade vasodilatadora prejudicados, utilização de cálcio e sensibilidade alterados, além do desenvolvimento da fadiga central (Figura 1, para revisão veja Powers & Jackson, 2008). Portanto, é plausível que a suplementação com antioxidantes pode neutralizar a fadiga e melhorar a performance, através da melhor perfusão do músculo exercitado, assim como a manutenção de um melhor acoplamento excitação-contração muscular e acionamento central. 

 

Figura 1. Os potenciais mecanismos da fadiga induzida por exercício. O mecanismo da fadiga permanece controverso devido a sua natureza de complexidade multifatorial e especificidade do tipo de exercício, intensidade e duração. No entanto, a exposição aumentada a espécies reativas de oxigênio e nitrogênio durante o exercício foi implicada, sugerindo que a suplementação com polifenóis pode demonstrar efeito ergogênico devido a sua propriedade antioxidante. 

 

Gradientes Iônicos/ Acoplamento E-C/Acionamento Central/Depleção de substrato/Acúmulo de subprodutos/Perfusão muscular

EROs/ERNs

Óxido nítrico (NO) aumentado/Biodisponibilidade/Atividade

Inibição da produção de EROs/Efeitos antioxidantes?

 

 

SUPLEMENTAÇÃO AGUDA 

Apenas alguns estudos investigaram se a suplementação aguda com polifenóis (única dose < 3 horas antes do exercício) afeta a performance no exercício. O timing de consumo parece ser um fator importante já que efeitos ergogênicos foram apenas observados naqueles estudos onde os polifenóis foram consumidos em até 1 hora anterior ao exercício. Isso provavelmente coincide com a máxima concentração dos metabólitos dos polifenóis do plasma e, portanto, efeitos fisiológicos máximos. Quando consumidos 30 minutos antes do exercício, a romã (1000mg de extrato de romã) (Roelofs et al., 2017; Trexler et al., 2014) e extrato de ecklonia cava (alga marinha japonesa) (72mg de polifenóis) (Oh et al., 2010) melhoraram o tempo na esteira até a exaustão, e o pico e força média durante ciclos de sprints em participantes ativos com fins recreativos. Os polifenóis combinados derivados do chá verde, uvas e romãs, ou uvas e maçãs (500mg de polifenóis) consumidos 1 hora anterior ao exercício aumentou o pico e força média durante ciclos repetitivos de sprints (Cases et al., 2017) e amentou o tempo até a exaustão durante um teste de corrida máxima adicional na esteira, e ciclismo em 70% da força aeróbica máxima (Deley et al., 2017) em participantes ativos com fins recreativos. Contudo, o extrato de romã ou flavonóides do cacau consumidos 1,5 hora ou mais antes do exercício não produziram efeitos ergogênicos (Decroix et al., 2017; Crum et al., 2017; Roelofs et al., 2017; Trexler et al., 2014). Estes estudos envolveram atletas treinados, então não está claro se o tipo de treino pode influenciar também na eficácia; apesar da melhora modesta em ciclistas experientes na performance em sprints, 1 hora e 30 minutos após a ingestão de concentrado de cerejas de Montmorency (Keane et al., 2018).

O efeito ergogênico observado em indivíduos ativos recreativamente provavelmente envolvem mecanismos vasculares, com redução da pressão arterial, e aumento do diâmetro da artéria braquial e do fluxo observado em conjunto com melhora da performance (Cases et al., 2017; Roelofs et al., 2017; Trexler et al., 2014).

SUPLEMENTAÇÃO CRÔNICA 

A suplementação groselha negra em pó (300mg/dia com 105mg/dia de antocianinas) por 7 dias aumentou o tempo de performance em teste de ciclismo de 16,1km (Cook et al., 2015) e da corrida em distância intermitente de alta intensidade até a exaustão (Perkins et al., 2015), reduziu o índice de fadiga em sprints repetitivos em participantes ativos recreativamente (Godwin et al., 2017; Willems et al., 2016), e induziu uma pequena melhora (0,8%) no tempo de teste da performance de ciclismo de 4km em indivíduos treinados (Murphy et al., 2017). Braakhuis et al. (2014) também encontrou uma possível melhora no tempo de teste de performance de 5km para corredoras de velocidade do sexo feminino após 3 semanas de suplementação com polifenóis da groselha negra (300mg/dia de antocianinas) durante um período de treino 

 

intensificado, com evidência de decréscimo da performance após suplementação com vitamina C neste estudo crossover randomizado.  A suplementação com cereja em pó por 7 dias melhorou o tempo do teste de performance de 15km em ciclistas treinados do sexo masculino (Morgan et al., 2019). No entanto, os achados não foram consistentes, já que 7 dias de suplementação com romã (1800mg de polifenóis) (Trinity et al., 2014), e 2 semanas de suplementação com chocolate amargo (108mg de catequinas e 88mg de flavanóides) (Allgrove et al., 2011) não melhorou a performance. 

Da evidência disponível, o consumo crônico de polifenóis parece produzir efeitos ergogênicos em participantes ativos com fins recreativos e em menor extensão, em atletas treinados. Os mecanismos mais prováveis parecem ser a exposição reduzida, ou aumento na capacidade de detoxificar EROs e espécies reativas de nitrogênio (ERNs) ou aumentar a atividade antioxidante enzimática.  Estas respostas parecem ocorrer em paralelo com a melhora da função vascular, possivelmente resultando em melhora da perfusão muscular e aumento na captação de oxigênio (Richards et al., 2010).

SUPLEMENTAÇÃO COM POLIFENÓIS PARA MELHOR RECUPERAÇÃO 

Danos musculares induzidos por exercícios envolvem processos mecânicos e bioquímicos. O dano inicial, induzido pela exposição à grandes forças mecânicas e exposição aumentada às EROs, é gatilho para uma potente resposta inflamatória onde as fibras musculares afetadas liberam citocinas pró-inflamatórias, que servem como atrativos químicos para neutrófilos e macrófagos e ativam as enzimas geradoras de EROs nos músculos (para revisão veja Peake et al., 2017). A infiltração e ativação de neutrófilos ocorre em 2 horas dos danos, o que libera EROs e enzimas proteolíticas que podem exacerbar o dano muscular inicial, mas que também facilitam a regeneração removendo os resíduos e ativando as células satélites. Logo após a infiltração dos neutrófilos, macrófagos provenientes dos monócitos do sangue se acumulam no tecido afetado. O papel deles é vasculhar resíduos e células apoptóticas e ainda, liberar uma gama de fatores de crescimento e outras substâncias que são gatilhos para a reestruturação da matriz extracelular e elementos contráteis e vasculares. O envolvimento central da geração de EROs e inflamação no músculo afetado e o processo de cura sugerem que existe uma razão clara para a suplementação com polifenóis para melhorar a recuperação (Figura 2).

 

Figura 2. A suplementação com polifenóis e a recuperação dos danos musculares. A suplementação com polifenóis parece melhorar a recuperação dos danos musculares induzidos por exercício por meio de muitos possíveis mecanismos: 1) inibição das enzimas produtoras de superóxido como as NADPH oxidases, 2) capacidade antioxidante endógena aumentada e 3) efeitos anti-inflamatórios. 

Exercício intenso/ 1 EROs/ERNs / 2 Lesões/ Inflamação / 3 Resposta imunológica

A suplementação com polifenóis derivados das frutas (Cereja de Montmorency (MC), romã e mirtilo) melhora a restauração da função muscular e reduz a dor após prática intensa de exercício. A suplementação com MC tem mostrado melhora na recuperação das funções musculares e performance no exercício em 5 de nove estudos publicados investigando esta questão (Bell et al., 2015, 2016; Bowtell et al., 2011; Connolly et al., 2006; Howatson et al., 2010). Estes estudos envolveram atletas treinados assim como indivíduos com prática de exercício com fins recreativos, assim diferente dos efeitos agudos na performance pela suplementação com polifenóis, parece que efeitos benéficos na recuperação são acessíveis para ambos os grupos de indivíduos atletas, assim como para os não-atletas. A eficácia do suplemento não foi influenciada pelo tipo de exercício utilizado para atingir o dano muscular, já que diferentes abordagens ou grupos musculares foram danificados em cada um destes estudos. Os polifenóis da MC foram fornecidos na forma de suco, consumidos pela manhã e à noite por pelo menos 3 dias anteriormente ao exercício, e foram fornecidos pelo menos 1200mg de polifenóis ao dia nos estudos onde a melhora na recuperação foi evidente.  Nos estudos que não relataram qualquer efeito na melhora da recuperação das funções musculares ou performance no exercício, ou foi fornecida uma dose menor (e presumidamente insuficiente) de MC em pó (Beals et al., 2017; Levers et al., 2015), ou a intensidade do exercício não induziu declínio mensurável da força muscular (McCormick et al., 2016) ou da performance no exercício (Bell et al., 2014), tornando por definição impossível a melhora na recuperação. 

O consumo do suco de romã foi relatado na melhora da recuperação da função muscular dos flexores do cotovelo (Machin et al., 2012; Trombold et al., 2010, 2011) e extensores do joelho (Machin et al., 2012) após exercício intenso em indivíduos do sexo masculino. No entanto, Trombold et al. (2011) relatou que os extensores do joelho em homens com treinos de resistência foram relativamente refratários de danos musculares (redução de 15-20% na força isométrica vs. perda de 25-35% da força isométrica dos músculos 

 

flexores do cotovelo) o que pode ter contribuído para a falta de efeito dos polifenóis da romã nos extensores do joelho deste grupo. Contudo, em homens ativos com fins recreativos, a força na recuperação tanto dos músculos flexores do cotovelo quanto os extensores do joelho, foi melhorada pelo consumo de um concentrado de romã fornecendo 650mg de polifenóis ou uma ou duas vezes ao dia por 3 dias antes do exercício (Machin et al., 2012; Trombold et al., 2010), sugerindo que esta dose mais baixa de polifenóis foi igualmente efetiva nesta população. Deve ser mencionado que o estudo de Machin et al. (2012) somente foi apresentado como resumo. A suplementação com mirtilo consumida na forma de Smoothie no dia do exercício (1360mg de polifenóis) e durante dois dias na recuperação (420mg polifenóis ao dia) melhorou a recuperação da força dos extensores do joelho após exercício excêntrico unilateral em mulheres ativas com fins recreativos (McLeay et al., 2012).

Os efeitos da suplementação com polifenóis da cereja na dor muscular após exercício intenso são bem menos consistentes; a suplementação com MC reduziu a dor muscular após exercício intenso em apenas metade dos estudos publicados  (Bell et al., 2016; Connolly et al., 2006; Kuehl et al., 2010; Levers et al., 2015), mas não nos outros estudos publicados onde a dor muscular foi relatada (Beals et al., 2017; Bowtell et al., 2011; Howatson et al., 2010; McCormick et al., 2016). A suplementação com romã reduziu a dor muscular após exercício excêntrico nos flexores do cotovelo em homens com treino de resistência (Trombold et al., 2011), mas não nos outros músculos ou estudos, e a suplementação com mirtilo não reduziu a dor muscular (McLeay et al., 2012). Não existiu um padrão claro para explicar esta variação, mas estudos não foram consistentes em termos de controle dietético já que alguns garantiram que os participantes se abstivessem em relação ao consumo de polifenóis no início do estudo e outros não. Em três estudos, efeitos favoráveis na recuperação da força muscular e na dor muscular foram evidentes; em outros, efeitos favoráveis na função muscular, mas não na dor muscular foram observados. Por definição, a dor muscular é uma medida altamente subjetiva mesmo quando a tolerância a pressão e dor é medida utilizando um algômetro, e apesar de importante para a performance atlética, é difícil de quantificar de maneira segura e objetiva. A quantificação da inflamação em um dano muscular por si só, junto a medida de dor muscular, poderia ser um passo importante em direção a um melhor entendimento dos efeitos dos polifenóis.  

APLICAÇÃO PRÁTICA 

  • Existe evidência preliminar para sugerir que o consumo de ~300mg de polifenóis em até uma hora antes do exercício pode melhorar a resistência e performance em sprints repetitivos, mais provavelmente devido a melhora na perfusão muscular. 
  • A otimização da recuperação pós-exercício é imperativa durante treinos pesados e calendários de competições onde existe tempo limitado para a recuperação. Evidências recentes sugerem que a suplementação com > 1000mg de polifenóis ao dia por 3 ou mais dias previamente e após o exercício irá melhorar a recuperação posterior aos eventos de esporte que levam a danos musculares. 
  • Esta dose de polifenóis poderia ser fornecida consumindo ~450g de mirtilos, 120g de groselhas negras ou 300g de cerejas de Montmorency (veja a tabela 1 e phenolexplorer.eu). Contudo, o conteúdo de polifenóis das frutas varia consideravelmente dependendo da espécie da planta, condições de crescimento e processos após a colheita. 
  • Médicos devem considerar o paladar e preferências pessoais de seus atletas e demandas do estilo de vida quando recomendarem protocolos de suplementação individual para garantir que estes protocolos sejam cumpridos, e o fornecimento de polifenóis provenientes das frutas (consumidas como parte da dieta) podem ser uma fonte mais conveniente e consistente de polifenóis. 

 

RESUMO 

Resumindo, o consumo de suco ou concentrado de MC fornecendo 600mg de polifenóis pela manhã e noite por pelo menos 3 dias anteriormente ao exercício e durante a recuperação tem sido consistentemente mostrado na melhora da recuperação da função muscular. A proteção dos músculos contráteis contra o dano oxidativo e supressão da inflamação são provavelmente os mecanismos que sustentam esses efeitos favoráveis. O consumo de ~300mg de polifenóis derivados das frutas em até uma hora antes do exercício parece melhorar o desempenho, provavelmente pela melhora da perfusão muscular. Estudos futuros são necessários para identificar a dose ideal, frequência e duração da ingestão/suplementação, e para melhorar nosso entendimento dos mecanismos de ação.

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